quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

José queria ser presidente.

Desde que nasceu, José sonhava em ser presidente.

Quando criança, estudou sociologia e história política, aprendeu tudo sobre Taylor, Engels e Marx. Tinha até seu preferido, Brecht.

Quando completou a maioridade, quis concorrer à vaga de vereador. Com um discurso empolgado, trazia as massas a si, e as manipulava como bem queria.

"Depois de ser eleito vereador, serei deputado, senador, e depois concorrerei à presidência" - pensava.

Conquistou diversos votos, sempre com a mesma promessa. Reformas, educação e saúde. Tinha mesmo intenção em cumpri-las, em melhorar a vida de seu povo.

Porém, no dia de sua inscrição nas eleições, descobriram um fato sobre sua vida que ele nunca revelara: José era uma arara. Estava lá, na sua identidade: a-r-a-r-a. Não podia negar o fato. A imprensa saberia de tudo em minutos, e ele precisava de uma saída rápida para manter sua reputação.

Cogitou tentar negar até suas forças esgotarem-se. Mas lembrou-se de seus ídolos, e sua formação ética não permitiria isso. Mas por Deus, ele era uma arara!

Decidiu, por fim, assumir seu lado arara. Colocou seu melhor terno, convocou uma coletiva, e abriu o jogo. Revelou todos os pormenores, contou a história de sua infância difícil, a mãe solteira que o criou com todo o carinho, mas com poucos recursos, o pai que resolveu pintar-se de verde e viver a vida como papagaio no Caribe, os irmãos que não chocaram... Contou também sobre sua verdadeira vocação, sobre sua história nas lutas sindicais - onde era um líder nato -, sobre seus anseios...

O discurso comoveu até o mais duro adversário político. Todos aplaudiram José. Mas um candidato rival, pressentindo a revolução a porvir, decidiu acabar com a vida política de José de vez:

"Mas olhem, ele é uma arara!" - Exclamou, disfarçado em meio à multidão.

Todos os olharem voltaram-se para José. Era clara a manifestação de desapontamento do povo diante daquele ser azul.

José, chorando copiosamente, decidiu então dar fim a sua carreira política. Lhe restava na vida apenas a vocação para convencer o povo. A vocação para a liderança, para a conversa sensata e eficiente. A vontade de ajudar que nunca morre.

No entanto, José hoje trabalha nas Casas Bahia, como auxiliar de vendedor. Sua vocação para convencer o povo restringe-se à venda de fogões e jogos de estofados. Sua vocação para a liderança resume-se em ser o primeiro na fila do cafezinho, às 15 horas. Sua conversa sensata e eficiente é aplicada para explicar ao consumidor como funciona o parcelamento em 24 vezes. E sua vontade de ajudar hoje não passa de uma frase, escrita nas costas de seu uniforme:

"Posso ser útil?"

16 comentários:

Dulce Miller disse...

Logo agora que encontramos um político honesto o cara resolve descobrir que é arara! Caraca, arara!!! PUTZ!É f*da...

Anônimo disse...

Lesson learned: never trust a blue one.

Preco disse...

Hoje em dia, o racismo contra araras é algo que nos faz pensar acerca da realidade do país.

Sugeriria, inclusive, a criação de cotas para araras nas universidades públicas, para reparar o erro histórico de sucessiva discriminação contra as araras no Brasil.

Lelo disse...

Descordo Preco! As araras têm a mesma formação física que qualquer um, e ainda fazem mais, coisa invejável por muitos homens, ela VÔA! Por isso sou contra a cota, ela deve conseguir as coisas pelo seu prórpio mérito!

Preco disse...

Por causa de racistas como você que a sociedade araraense brasileira está morando em gaiolas e poleiros de baixa categoria, feitos de papelão, e você, classe média, morando em casas de tijolo e com carros na garagem.

Abaixo o fascismo!

Preco disse...

Passei o olho rapidamente pelo nome do blog, e li "Caramelo no parquinho"

Amo dislexia eu

Lelo disse...

Ah, eu já enxerguei no que vc acabou de escrever: Cogumelo no carrinho"...
(seria o Toad em super mario kart?) (ou um hippie comprando alucinógenos no mercado?)

Dulce Miller disse...

Será que chega, quem, como, onde, quando, por que....FALAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!

Dulce Miller disse...

Quem será esse Liquid...tô com medo...

Preco disse...

Liquid é o A. Francisco, um amiguinho meu de longa data.. Eu acho que ele é um antigo leitor do blog, mas não tenho certeza.

=D

Lelo disse...

Deve ser um das antigas sim...

Dulce Miller disse...

Então tá, não tô mais com medo dele! ;D
Tem outro que também é das antigas, mas que prefere ficar invisível porque tem vergonha da aparência dele, (é meio perturbado, coitado)
Ô Jacinto, aparece aí, rapá!!!

Eu Sou Garota? disse...

Obrigada pela visita, eu estou de volta e vou te linkar!
Xero da Garota.

Didgio disse...

O Jacinto não é aquele cara que foi atropelado a alguns dias lá fora...

Boa pessoa, só deus sabia como ele queria o bem de todos...

Bem que o nosso amigo arara podia ter conseguido um emprego no circo, vocês sabem, andando de bicicleta sobre uma linha. Poderia discursar enquanto pedalava ou fazer mágicas.

Dulce Miller disse...

Ô Didgio, quê isso??? Arara e Jacinto dariam pra uma dupla sertaneja! ;)

Preco disse...

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